segunda-feira, 18 de junho de 2018

Chapter 4: Escolher a Plataforma Ideal

Quarto capitulo: Escolher a Plataforma Ideal (Motherboard + Processador)



O que é a "plataforma" de um PC?

Há vários nomes para isto mas, a fim de assegurar alguma simplicidade, chamemos-lhe plataforma. E consiste simplesmente na motherboard e no processador. É importante definir a plataforma porque esta determina muitos outros componentes do build, como cooling, RAM, caixa, etc. 

E que plataformas existem?

Resposta curta: muitas. A começar pela diferenciação de marcas. Existem no mercado, de momento, 2 marcas apenas de processadores e chipsets de motherboards, a AMD e a Intel. E essa é a primeira decisão a tomar. 

Depois, cada uma das marcas separa as suas ofertas entre uma gama mainstream e uma gama enthusiast (por assim dizer...). Dentro destas gamas pode haver Sockets (encaixe do processador na motherboard) diferentes e Chipsets (o chip que, na motherboard, faz a ligação entre os vários componentes core do sistema e os faz funcionar) diferentes, dependendo das diferentes características técnicas. 

Tanto na AMD como na Intel, cada gama usa um só socket próprio mas, na gama mainstream, existe mais do que 1 chipset e na gama enthusiast, apenas 1. E não, na maioria destes casos não há retrocompatibilidade com plataformas mais antigas. Normalmente o que acontece em saltos de geração é que, embora o Socket do processador se possa manter intalterado (e portanto, na teoria, o processador pode ser instalado na board porque "cabe lá"), o Chipset é diferente, normalmente não reconhecendo os processadores das plataformas anteriores. O salto geracional é mais dado pelo chipset e processador do que pelo socket.


Ok, e que oferta existe em cada marca?

Nota: eu vou falar do que atualmente é considerado atual e não no que está à venda. Existem processadores e motherboards à venda com 5 ou 6 anos de mercado e que não estão up to date. Isto quer dizer que na AMD vou apenas falar dos Ryzen e, na Intel, da geração CoffeeLake (Mainstream) e Skylake-X/Kabylake-X (Enthuasiast).

AMD Mainstream:
  • Socket: AM4
  • Chipset (do mais barato e simples para o mais complexo e recente): AMD A320, B350, X370 e X470*
  • Processadores suportados: Ryzen 3 (1200, 1300X, 2200GE*, 2200G*), Ryzen 5 (1400, 1500X, 1600, 1600X, 2400GE*, 2400G*, 2600* e 2600X*) e Ryzen 7 (1700, 1700X, 1800X, 2700* e 2700X*)
  • Memoria: Dual Channel DDR4
* Em 2018 foi lançado a segunda geração dos processadores Ryzen 5 e 7, com melhorias a nível de performance e de compatibilidade com RAM além da adição de pequenas novas features como GPU Vega integrado no processador nalguns modelos. Esta segunda geração Ryzen 5 e 7 foi acompanhada do lançamento de um chipset melhorado X470 que faz uso destas features. Existe compatibilidade entre gerações mas algumas features podem não estar disponíveis ou acessíveis em certas combinações, pelo que os processadores 2200GE, 2200G, 2400GE, 2400G, 2600, 2600X, 2700 e 2700X devem ser emparelhados com o chipset X470 de preferência. Os processadores com G ou GE na terminologia incluem onboard graphics Vega 8. Todos os outros processadores obrigam à compra de uma placa gráfica.

AMD Enthusiast:
  • Socket: TR4
  • Chipset: X399
  • Processadores suportados: Ryzen Threadripper (1900X, 1920X, 1950X)
  • Memoria: Quad Channel DDR4
Intel Mainstream:
  • Socket: LGA 1151
  • Chipsets: H310, B360, H370, Q370, Z370 e Z390
  • Processadores suportados: Celeron (G4900, G4920), Pentium Gold (G5400, G5500, G5600), i3 (8100, 8350K), i5 (8400, 8600K) e i7 (8700, 8700K)
  • Memoria: Dual Channel DDR4
Intel Enthusiast
  • Socket: LGA 2066
  • Chipet: X299
  • Processadores suportados: i5 (7640X), i7 (7740X, 7800X, 7820X), i9 (7900X, 7920X, 7940X, 7960X, 7980XE)
  • Memoria: Quad Channel DDR4


Na AMD, todos os processadores permitem OverClock, (embora os que são vendidos como vocacionados para isso sejam os que terminam em X) mas a motherboard tem de ter um chipset da serie X, seja o X370, X470 ou X399. Na Intel, apenas os processadores que terminam em K ou X permitem OverClock e tem de estar associados a um chipset da serie Z ou X, sendo que as series B, H e Q não permitem OverClock. Apenas boards que permitam OverClock permitem usar perfis XMP de memoria RAM DDR4 acima dos 2400mhz. 

Toda a diferenciação entre os chipsets diz respeito a capacidade fazer overclock ou não, numero de portas USB, numero de portas SATA, numero de PCI-E, compatibilidade com RAID, etc. Para facilitar na escolha, no que diz respeito a MainStream, vamos falar apenas do chipset X470 na AMD e do chipset Z370 na Intel, visto que são a melhor escolha no que toca a Valor/Longevidade/Features.


Então e... Intel ou AMD? 

Essa tem sido a questão que se levantou durante os últimos 15 ou 20 anos em diversos momentos. Infelizmente, durante as ultimas 2 décadas, poucos foram os momentos em que a AMD apresentou uma concorrência capaz às ofertas da Intel, especialmente no universo gaming. Consistentemente, a Intel tem-se mantido à frente da AMD em gaming performance.

Mas... hoje, a história é diferente. Com o lançamento da plataforma Ryzen o ano passado, a AMD passou a contar com processadores desktop que ofuscam a oferta da Intel em vários campos (embora não em todos). E isso obrigou a Intel a dar um salto em frente, subitamente, para combater a AMD. 

Para explicar melhor o porquê, é preciso perceber a aposta diferente de cada marca nos processadores. Desde que se desenvolveu a tecnologia multi-core nos processadores, a AMD tem apostado em fazer processadores com mais cores e mais threads em detrimento de clocks elevados. A Intel, por sua vez, tem apostado nos clocks elevados e core counts baixos, especialmente na sua gama mainstream. Isto porque, no geral, um processador com muitos cores normalmente não consegue clock speeds tão altas e, quando o consegue (por exemplo, por uso dos "turbo clocks"), normalmente é apenas em um ou dois dos cores. Mais cores = clocks mais baixos. 

E, em parte, a culpa para o domínio da Intel era da AMD. Como não havia nenhum processador AMD que, ao fazer uso de multicores, conseguisse ofuscar a oferta da Intel, a Intel não sentia necessidade de mudar a gama. 

Resultado: a primeira geração i5 saiu em 2009 com 4 cores e só este ano, 2018, é que saíram i5 com 6 cores. Não porque a Intel não tivesse tecnologia para isso mas, porque não tinha concorrência que a isso obrigasse. Assim, podia deixar os processadores com mais que 4 cores para a gama enthusiast, cobrando, obviamente, um valor mais elevado a quem precisava do processamento extra. 

A industria dos jogos também se adaptou a esta realidade. Quando a tecnologia multicore apareceu, muitos pensaram que isso impulsionaria a industria dos jogos visto que proporcionava um salto enorme a nível de capacidade de processamento de informação. Mas, isso não aconteceu... Sim, houve um salto mas, como os primeiros processadores AMD multicore tinha vários problemas (temperatura, instabilidade, pouco potencial de overclock, etc), a industria manteve-se fiel à formula Intel: menos cores, mais clock speed. E os jogos foram sendo desenvolvidos para fazer sempre maior uso e ter maior beneficio por clocks mais altos do que por numeros de cores mais elevados. 

É por esta razão que, ainda hoje, se considera que para a melhor performance gaming possível, é mais benéfico uma clock speed mais alta do que um maior numero de cores. Quase todas as game engine seguem esta lógica e quase todas reagem melhor a mais clock speed do que a maior capacidade de processamento paralelo. 

A AMD com a plataforma Ryzen veio abanar um pouco essa convicção, oferecendo processadores com 6 e 8 cores e clocks muito semelhantes às melhores ofertas da Intel com 4 cores. A serie FX já o fazia mas tinha muitos problemas, especialmente a nivel de estabilidade pelo que o verdadeiro salto deu-se agora com o Ryzen. Adicionando a isso, a AMD dotou todos os processadores Ryzen 5 e 7 com hyperthreading (duplicação do numero de threads face ao numero de cores), algo que a Intel colocava no i3 dual core (para lhe dar 4 threads) e no i7 quad core (para justifica-lo face ao também quad core i5). 

Assim, escolher entre Intel e AMD é, nesta geração, muito difícil. Poupando-vos uma análise muito exaustiva e, depois de ter em conta muitos benchmarks e testes, a nota geral é mais ou menos esta:

  • Muito multitasking e muito uso de aplicações de produtividade (encoding de video, streaming, tratamento de imagem, etc) com gaming = Ryzen 5 e 7 de ultima geração numa motherboard X470. 
  • Gaming com ocasional uso de aplicações de produtividade = Intel i5 e i7 numa motherboard Z370. 

Assim, no fundo, a escolha entre uma ou outra plataforma é apenas dependente do uso que se vai dar. E, de notar que, dizer que os Ryzen são melhores para multitasking/produtividade que os Intel, não é dizer que os Intel sejam incapazes ou não sejam bons nessas tarefas; significa apenas que em benchmarks e testes, ficaram atrás. Por vezes, por 2 ou 3%, outras vezes por 10%, dependendo dos testes. Da mesma forma, dizer que Intel é preferível para performance gaming, não é dizer que os Ryzen não são bons processadores para gaming; a diferença por vezes ronda os 10% em situações muito especificas (como causando bottleneck do CPU usando uma 1080ti a rodar em 1080p).



Nota especial para streaming: De acordo com o site de reviews de hardware GamersNexus, (que é dos melhores sites e dos mais fidedignos no que toca a review de hardware) os Ryzen 5 e 7 de ultima geração são imbatíveis neste momento para streaming off the box. Ou seja, chegar, ligar e fazer streaming sem mexer em permissões de CPU, prioridades de processamento, etc, Ryzen é imbatível. Podem ver a comparação aqui  mas a ideia geral é essa. 


Então e performance termica e gasto de energia?

No geral, de momento, a plataforma Ryzen é mais fresca que a plataforma CoffeeLake da Intel. A margem é pequena mas os Ryzen tem uma muito boa performance térmica, especialmente quando em OC e comparando com CoffeeLake em OC. Kabylake e CoffeeLake a nível térmico não foram boas séries para a Intel, com especial foco nos i7-7700k e i7-8700k que têm tendência para serem "quentes". Isto apenas importa no momento de escolher o cooling, sendo que nestes casos, há que escolher com maior cuidado. Não é algo que seja determinante na escolha. No entanto, por outro lado, no geral, um sistema Ryzen consome um pouco mais de energia que um sistema Intel. 

E para fazer OverClock depois... Há alguma coisa a ter em conta?

Alem da escolha dos CPU's e Motherboards que permitam OverClock (tal como descrito acima), não há muito a ter em conta exceto que nestas gerações, o que se consegue ganhar de performance com overclock é cada vez menor. Um ganho de 300mhz é muitas vezes o que se consegue e isso pode traduzir-se num ganho de performance tão pequeno como 1 a 5 fps num jogo por exemplo, em troca de por vezes mais 10 a 20ºC, maior gasto de energia, menor durabilidade e maior risco de instabilidade de sistema. 

O overclock hoje em dia não deve determinar tanto a escolha de componentes como em tempos pois os hardware já é enviado muito próximo da sua capacidade máxima e os ganhos são poucos. 

Entre Intel e AMD, pouca diferença há no que toca a capacidade de OC. Parece haver uma tendência para se conseguir maiores ganhos de mhz nos Ryzen do que nos i5/i7 mas nem isso é consensual. 

Estamos a falar de Processadores...mas e a motherboard?

A escolha de uma motherboard passa mais por 2 aspetos: chipset e as features. 

No caso do chipset, já falamos sobre isso. Optar sempre que possível pelo topo da especificação dentro da gama que se quer comprar para se ter acesso a uma plataforma mais future proof e com mais capacidade de upgrade. Numero de portas USB, compatibilidade com RAID, numero de SATAs, etc. Quanto mais melhor. 

Quanto a features, é mais uma questão de orçamento. Normalmente, há que ter alguma atenção ao chip de som integrado na motherboard, distribuição das portas USB (entre 2.0, 3.0 e type C), reforço de portas PCI e pequenas coisas assim. Normalmente, os chips de LAN são o mesmo em vários fabricantes assim como o de som, pelo que pode-se encontrar o mesmo chip noutras marcas. 

WiFi, Blutooth e outros add-ons onboard podem ser boas escolhas mas...um dongle faz o mesmo efeito e...não vamos jogar por WiFi pois não? Todas as boards do preço médio para cima da ASUS, MSI, Gigabyte, EVGA e NZXT são boas escolhas. Melhor placa de som possível e aspeto normalmente ditam a escolha. 

Só para esclarecer, há diferenças de performance entre motherboards de marcas diferentes mas estas raramente chegam a ser de mais que algumas décimas percentuais, alguns graus de temperatura ou umas décimas a mais de watts consumidos. Nada que invalide uma escolha na minha opinião.

E tamanho da board?

Se se lembram do post anterior onde falava das caixas, existem vários tamanhos de boards:  mini-ITX, micro-ATX, ATX e Extended-ATX. Normalmente, o formato comum é ATX e as series enthusiast normalmente são Extended-ATX. Façam mais conta dum formato ATX a não ser que queiram mesmo um PC pequeno e investirem num micro-ATX ou até num mini-ITX.

Não esquecer que as boards mais pequenas tem menos portas. Normalmente, micro-ATX não tem as duas ultimas PCIs e a Mini-ITX so tem mesmo uma PCI-Express e dois slots para RAM.

Então e a série Enthusiast??

Bem, se a carteira é funda...e digo, muito funda, a série enthusiast de qualquer uma das marcas é uma opção obviamente a considerar. No geral, estas series tem uma performance gaming "average" apesar do price tag elevado. Isto porque as series enthusiast tem core counts elevados, tanto na AMD como na Intel, o que normalmente significa clock speeds mais baixas e, portanto, performance gaming menor. Outra feature das plataformas enthusiast que tem pouca expressão em gaming e memoria quad channel. São poucos os jogos que fazem uso de muitos cores e memoria quadchannel e assim o beneficio de ter um deca-core a 3.3ghz é quase nulo vs um quad core a 4.5ghz. 

Mas estas series existem porque também tem a sua finalidade. Produtividade. Sempre que alguém trabalha com computação, tratamento de imagem (em especial vídeo), multitasking com ficheiros grandes, etc, estes computadores começam a fazer sentido. E também servem para jogar....simplesmente a relação preço/performance é...baixa. 

Neste nível, a AMD lidera na relação preço/performance obtida em parte porque o Threadripper é sempre mais barato que um Intel equivalente e, tendencialmente, sempre mais poderoso do que esse mesmo Intel. Mas a Intel faz melhor uso de memoria e, nalgumas aplicações, consegue ser superior a AMD. 

Exatamente quanto mais caro estamos a falar?

Vamos pensar em...12 cores, que é uma spec média dentro das sérias Enthusiast. 

AMD Ryzen Threadripper 1920X (779,90€) + Asus ROG Strixx X399-E Gaming (364,90€) = 1144,80€

Intel Core i9-7920X (1199,90€) +  Asus ROG Strixx X299-E Gaming (331,90€) = 1531,80€

Comparando com...

AMD Ryzen 7 2700X Octa-Core (329,90€) + Asus ROG Strixx X470-F Gaming (200,90€) = 530,80€

Intel Core i7-8700K Hexa-Core (339,90€) + Asus ROG Strixx Z370-F Gaming (208,90€) = 548,90€

Além de que, nas plataformas enthuasiast, deve-se comprar 4 dimms de RAM e nas mainstream 2 dimms. Por exemplo, 16gb DDR4 3000mhz CL15. 

4x Hyper X Predator 4gb 3000mhz, CL 15-17-17 = 249,80€

2x Hyper X Predator 8gb 3000mhz, CL 15-17-17 = 229,80€

Enthusiast = muito caro para gaming... Melhor investir esse dinheiro noutros componentes como a gráfica. 

Ps- Preços da PCDiga a 18/6/2018


Então...TL;DR?

Se o objectivo do PC for jogar primeiro, fazer streaming, tratamento de imagem ou produtividade depois... Intel. Se o objetivo for por a produtividade, streaming, tratamento de imagem acima de jogar... Ryzen. 

Dentro da Intel, i3-8350k é uma excelente opção para budgets mais baixos ou i5-8600k ou i7-8700k para budgets mais altos. Na AMD, Ryzen 2600X ou 2700X para budgets maiores e um 1300X para budgets mais baixos. 

Em ambos, escolher sempre os chipsets de spec superior (AMD X470 e Intel Z370) nas motherboards e escolher estas com base nas features que se procuram.

Maximizem sempre o vosso orçamento comprando a melhor spec possivel dentro do dinheiro que podem gastar mas sempre com base na finalidade que vão dar à máquina final. 

Enthusiast apenas se for necessário ou...se a carteira não tiver fundo. 

Simples hã? :P

Próximo post: RAM

Sem comentários:

Enviar um comentário